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terça-feira, 1 de novembro de 2011

O treinamento e a bagunça


Eu já mencionei que sou péssima nesse negócio de manter um blog? Não que eu não tenha a criatividade ou a vontade de escrever e contar as roubadas em que me meto às vezes... o problema é que eu faço tudo na minha cabeça. Eu vivo dentro da minha cabeça, sempre no meu mundinho interno e absolutamente secreto.

Ok, vamos lá. Primeiro de tudo vamos mudar o 'quem sou eu'. Quem sou eu? Essa é uma pergunto que me faço o tempo todo, juntamente com Onde estou? Que dia é hoje? Ou melhor ainda: de que mês? Ainda estamos em 2010? Opa, quero dizer, 2011? Ainda é 2011 né?

Ok ok... Vamos fazer um breve relato de como foi o treinamento e depois pular para quando comecei a voar e então quem sabe nos próximos posts (que, me conhecendo, será provavelmente daqui há um ano) eu possa explicar essa bagunça que é a minha vida de comissária.

O treinamento foi, por falta de palavra melhor, puxado! Eram oito horas diárias de muita informação, que deveria estar devidamente memorizada no fim do dia. Acordar as 4:30 (sim, senhoras e sonhores, da manhã) para estar prontinha, arrumadinha e com café tomado esperando pelo ônibus às 6:20 no saguão do prédio.

Após a primeira semana que foi absolutamente um TÉDIO (sim, com letras maiúsculas!), na qual nos apresentaram todas as razões para pensar: o que eu vim fazer aqui mesmo? Adicione a tudo isso muito jet lag, ou como diria o professor Gildoberto, alterações no meu ciclo circadiano, noites após noites de insônia, e dias após dias tentando inutilmente ficar acordada durante o dia e prestar atenção no que estavam me falando. Ah sim, e comendo muito mal também!

Bem, foram sete semanas torturantes. De domingo a quinta, treinamento das 7:30 às 15:30, e nas noites de quinta e sexta em ritmo de festa, dormindo o dia inteiro depois. A semana por essas bandas é de domingo a quinta, tendo sexta e sábado como fim de semana. Sei que é estranho para nós brasileiros, mas depois que se começa a voar, isso perde a importância totalmente.

Sete semanas de treinamento em segurança, emergência, emergências médicas, serviço a bordo, tudinho realizado e aprovado, teoria E prática, mais extras devidamente completados! Ainda bem que sou como um golfinho, metade do meu cérebro dorme, enquanto a outra metade finge que está prestando atenção (Obrigada FoxKids!! – Marca Re-gis-tra-da!!).

Pronto!

Que venham os dois voos de teste! O primeiro foi para Beirute, Líbano! Estava tão animada! Nossa, vou pro Líbano! Haha!  É até engraçado lembrar. P.S. Era só um bate-volta (nós nem descemos do avião). Voos de teste são sempre bate-volta. Na frota principal pelo menos. Mas tive a sorte de voar com uma das minhas colegas de turma do treinamento, o que foi realmente ótimo!

Isso foi na segunda metade de janeiro, tive uns sete ou oito bate-voltas e dois pernoites. Sim, em 15 dias! Acredite, isso é muito! Para que possam ter uma idéia, em um mês normal eu tenho uns oito voos. Nos últimos meses tenho recebido dez voos.

Finalmente chegamos a parte da bagunça. Este trabalho suga minha energia de um jeito que nunca senti antes. É realmente cansativo, embora não pareça para quem observa. E acordo de tempos em tempos (leia-se o tempo todo) no meio da noite, sem saber direito quem sou, onde estou, assustada achando que perdi meu voo no meu dia de folga e pensando "ainda bem que estou em casa e que não tenho que voar amanhã" quando estou em um pernoite e um voo bem longo me espera no dia seguinte.

Quanto ao "que dia é hoje", esquece! Mal lembro meu próprio nome, você ainda quer que eu me lembre o dia da semana? Ou do mês, que seja. Dias da semana não existem mais pra mim. E o único dia do mês que eu conheço é o dia de pagamento, que felizmente coincide com o dia que sai a escala do próximo mês.

Isso tudo pode soar como uma revolta, mas não. É simplesmente um fato. Comissários não tem dias de semana e finais de semana. Não faz direferença, principalmente numa cidade lotada de comissários como esta. Combine isso com o fato que atravessamos diversas zonas de fuso horário constantemente, para estar em países e hotéis diferentes, e chegamos ao fundo da bagunça.

Não pensem que estou reclamando. Exatamente o contrário. Eu adoro não ter dias de semana, de não ter rotina definida, adoro estar em países diferentes o tempo todo, ir fazer a feira do mês a milhares de quilometros de distancia da minha casa...

Então, já chega por hoje né? Tenho que ir dormir, tenho um voo de mais de nove horas amanhã e ainda tenho que fazer compras! Fui!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O primeiro dia


Chegando ao meu novo apartamento,  liguei para minha mãe. Não consegui de primeira mas depois de ligar para a Isa, uma pessoa maravilhosa que conheci pela internet, e perguntar como se liga para o Brasil, finalmente consegui informar a minha mãe que ainda estava viva.


No dia seguinte, como programado, acordei, liguei pra Isa de novo e segui as instruções de pegar o metrô e ir até a casa dela. Detalhe: eu só tinha uma idéia de onde era a estação de metrô mais próxima, que não era assim lá tão próxima, como acabei descobrindo.

Pensei: vou perguntar para os seguranças do prédio, com certeza eles saberão me informar. Haha! Grandissimo engano meu caro Watson! Eles não faziam nem idéia! Massss, como eu havia passado horas estudando o mapa da área enquanto ainda estava no Brasil, peguei minha cara e minha coragem e saí atrás da estação.

E fiquei muito orgulhosa de mim mesma. Achei a estação sem problemas, não me perdi nem um vez (na ida né? Na volta já foram outros quinhentos). Continuei seguindo as instruções da Isa, comprei o cartão do metrô, desci na estação certa, só tive que dar uma "procuradinha" pelo prédio dela, já que por aqui eles não acreditam em numerar imóveis. Ainda bem que ela já tinha publicado uma foto do prédio, o qual tem um topo bem distinto, e eu tive a brilhante idéia de olhar pra cima.

Ficamos um tempinho no apê dela, já que o combinado era que todos ligássemos pra ela pra decidir nosso passeio do dia. Mas o senhor Elmir e o senhor Danilo não cumpriram com o acordo e saimos sem eles mesmo.

Fomos ao shopping! (lóóóóógicoooo!!) Ir ao shopping por aqui é mais que uma atividade ou passatempo, é quase uma modalidade esportiva! É uma tradição infincada nas raízes do povo! E eu, claro, como uma boa nova residente do país, tinha que fazer esse enorme esforço de me integrar à cultura local! Eeeeee! Palmas para mim!!

O shopping aonde fomos, que é o que se pode chamar de O principal por estas bandas, é fantástico! Gi-gan-te! Principalmente para uma pessoinha do interior como eu, acostumada a ter um único shopping na cidade, ter um lugar desses, sem falar dos muitos outros existentes por aqui (modalidade esportiva, lembra?), é um perigo constante. Mas eu sou uma boa menina a maior parte do tempo, vivo neles, mas não compro na-da!!





Acabamos encontrando o Danilo e outros de nossos amigos novatos, e muitas fotos mais tarde fomos à praia.

Deixamos nossas bolsas e sapatos na areia e molhamos os pés, fotografamos mais, conversamos, brincamos e... e adivinha só: não fomos roubados!! Não sofremos nenhum arrastão, nossos pertences continuavam lá, do mesmo jeito que deixamos, intocados!! Essa foi a parte mais inacreditável do dia! A maior diferença que senti entre meu país amado e maravilhoso e meu novo lar nas arábias.





A Isa é um anjo! Sempre se dá ao trabalho de levar os novatos brasileiros para esse programa básico, nos recebendo e fazendo com que nos sintamos bem-vindos. Dedico este post a ela, pela diferença que faz em nossas novas vidas, com um ato simples mas de grande impacto! Muito obrigada!


É isso aí pessoal! Até o próximo batpost e eu vou tentar não demorar essa eternidade toda pra postar de novo ok?



PS. Isa, eles deviam te contratar.

PS. #2 Agradeçam a meu horóscopo que disse que eu deveria escrever hoje.

PS. #3 Se os acentos não estão corretos (ou correctos), sinto muito, mas eu ainda não comprei meu dicionário novo nem minha gramática nova.

PS. #58.370.981 Recebi um comentário (ao vivo e à cores) relacionado ao post anterior. Gostaria de esclarecer que quando disse que algumas pessoas que eu não esperava que aparecessem no aeroporto apareceram assim mesmo, eu quis dizer que fiquei surpresa, mas foi uma surpresa boa, e não que eu preferiria que não tivessem ido. Exatamente o contrário, fiquei muito feliz de ter tantos amigos demonstrando tanto carinho ao irem se despedir de mim.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O começo



Ok, ok, ok… vocês pediram, e eu (finalmente) fiz. Inspirada pela minha flatmate Juliana e minha super amiga Amanda vou começar o blog, mas não prometo nada (método comissária), pois como todo mundo bem sabe, preguiça é uma coisa que não me falta. Mas vamos que vamos, e se vamos, vamos fazer isso do jeito certo. Vamos começar do começo.

Era uma vez (lógico, toda história tem que começar com era uma vez) numa galáxia muito distante (sim, eu sou nerd e adoro Star Wars) uma criatura que estava se mudando para um país do oriente médio, deixando uma pequena cidade grande para ser comissária de vôo numa grande cia.  aérea. No aeroporto dessa pequena cidade grande estavam sua família e alguns amigos (até alguns que ela não esperava que aparecessem, mas que apareceram mesmo assim =D) para se despedir dela. É claro que foi uma choradeira total. Até mesmo uma pessoa insensível como eu não consegue deixar de chorar numa situação dessas né?

Mas ok, entrei no avião (ainda tentando controlar as lágrimas) e fiquei tentando identificar minha família e amigos no deque de observação do aeroporto (longe pacas do avião), e acho que consegui enxergar alguma coisa (ou isso ou já estava delirando e era tudo alucinação).

Como, exagerada que sou, já tinha pagado uma nota preta (azuizinhas, na verdade, aquela com a garoupa, sabe?) pelo excesso de bagagem até Sampa, quando cheguei a GRU decidi pegar e colocar os dois últimos quilos excedentes na minha mochila para levar de bagagem de mão (a partir de GRU o limite era 50kg, ao contrário dos 23 kg  de vôos domésticos). Lógico que fiquei um tempão no banheiro fazendo isso, mas quando finalmente fui pesar as malas antes de embalar (com a ajuda do carinha da embalagem, muito obrigada!), as duas malas deram exatamente 50 kg! Vai ser cagada ter sorte assim na casinha do chapéu hein? (casinha do chapéu é uma referência a minha infância, um velho que odiava quando jogávamos bola no seu quintal e nos mandava pra casinha do chapéu, diretamente do baú especialmente para vocês!)

Entre rearrumar as malas, embalar, ligar para minha mãe e outras coisinhas mais, acabei me atrasando para o check in, afinal de contas meu relógio ainda estava em outro fuso horário e eu estava achando que tinha muito tempo (vamos dizer que foi estresse ok?). Mas quando fui fazer o check in, a pessoa (não sei qual era o cargo dela) muito amável (sarcasmo pesadíssimo) da cia aérea me disse que o check in havia encerrado há 15 minutos e que não poderia embarcar. Ai eu pensei: f# tudo né?  Insisti e chorei (como uma boa brasileira) e acabaram me deixando embarcar, mas me informaram que não teria comida para mim pois o catering já havia terminado de carregar a comida. Eu disse ok, lógico! Não iria perder um emprego por uma refeição  né? (só porque eu sou prevenida e tinha bolachinhas na bolsa =D, claro!)

Saí correndo que nem louca, não queria perder o avião!! Cheguei no portão de embarque e adivinha só? O embarque mal tinha começado! Mas tudo bem! Entrei, coloquei minha super mochila no compartimento de bagagem de mão, e sentei.

Desde o curso de comissária no Brasil, comecei a prestar mais atenção nas comissárias (lóóógico!) e como essa seria minha cia empregadora, prestei mais atenção ainda. No caminho até meu assento percebi que existiam dois tipos de comissárias(os): as sorridentes e bem arrumadinhas e as que mal se aguentavam em pé e precisavam ficar apoiadas na fuselagem do avião. Mas vamos pular essa parte, hoje eu entendo melhor como são as coisas.

Sentei, conheci meus colegas new joiners (alguns acabaram se tornando meus melhores amigos) e o Dan (lindo!) se ofereceu para dividir sua comida comigo se o que contei sobre não ter comida para mim fosse verdade.  Mas tudo bem, tinha comida de sobra (era tudo pressão psicológica), não tinha vegan como eu tinha pedido, mas eu comia os vegetais e o Dan comia a carne (um acordo perfeito para nós dois).

Durante o vôo, nos divertimos demais, então é melhor nem comentar muito, mas já tive uma idéia de como seria minha vida dali pra frente.

Desembarcamos (o aeroporto é gigante!!! Se não tivéssemos uma comissária brasileira super gente boa, voltando das férias, de guia, estaríamos perdidos!), passamos pela imigração e quando fomos passar pela alfândega, é claro que me escolheram para passar no raio X né? Afinal de contas eu tenho muita cara de quem tem trocentos vibradores e pornografia hardcore na mala, não é mesmo? (Aqui nas arábias esse tipo de coisa é super proibido e é isso que eles procuram no raio X)


Depois que nos designaram nossos respectivos transportes, fomos cada qual para seu novo lar.

Cheguei no meu novo apê e estava tudo limpinho, arrumadinho, deu até medo de tirar alguma coisa do lugar e levar um ralo depois! Adorei!!



Eu sei que escrevo demais e que o post ficou gigante, mas assim como a Stephenie Meyer (sim, eu também sou fã de Twilight, nerd lembra?) eu não sei contar uma história curta. É isso aí!

Até a próxima! Neste mesmo bathorário, mesmo batcanal (nerd no últimoooo!!).



*Flatmate: colega de apartamento
 GRU: Aeroporto de Guarulhos - SP.
 New Joiner: novato, aquele que está entrando para a cia.